quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sobre a diversidade étnico-cultural do judaísmo hoje - Artigo "Do norte da África ao subcontinente indiano" de Carlos A. Póvoa

PÓVOA, Carlos A. Do norte da África ao subcontinente indiano: a extensão histórico-geográfica da comunidade judaica. In: Revista de Estudos Judaicos. IHIM: Belo Horizonte, 2011.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sobre as variadas condições de vida no século I d.C. - Tradução de trecho de Fílon de Alexandria


coleção de frascos do período romano - Museu da Fundação Calouste Gulbenkian

por Cesar Rios 
 
No imaginário de muitos, o século I d.C. figura como um tempo empoeirado. Isso pode fazer parecer que não havia opções de vidas diferentes, gradações diversas entre ricos e pobres, opções de consumo desejáveis para os que se dedicavam a ter mais riquezas. (E isso gera, também, interpretações toscas, como a daqueles que afirmam que a jumenta sobre a qual Jesus entrou em Jerusalém era como a Ferrari da época.) É óbvio que a diversidade (e frequente novidade) que há na oferta de produtos e serviços de nosso tempo não tem precedentes. Encher um hipermercado com tantas coisas diferentes na Idade Média ou até mesmo na primeira metade do século passado seria inviável. Contudo, no primeiro século da Era Cristã havia, sim, uma variedade considerável de produtos e serviços disponíveis para aqueles que podiam pagar por eles. Se um filósofo ou líder religioso convidava seus seguidores a deixarem em segundo plano a aquisição de bens, isso tinha consequências práticas no acesso dessas pessoas a uma série de coisas deveras agradáveis. Não é correto, então, de pensar que para os possíveis seguidores de hoje a situação seria muito mais difícil.

O trecho que apresento abaixo, traduzido por mim, é da obra de Fílon de Alexandria. Não intentarei tratar do pensamento do autor alexandrino aqui, nem explicarei o contexto exegético em que se acha o trecho que recorto (contexto curioso, no qual José é interpretado de modo muito negativo). Quero simplesmente tomar sua exposição como retrato de um tempo, que é justamente o tempo de Jesus, pois Fílon é contemporâneo dele. A ilustração que o alexandrino tece nos leva a visualizar bem as diferenças entre a vida dos abastados e dos pobres, em diversos aspectos. De que maneira gostaríamos de viver naquele tempo? Estaríamos dispostos a abrir mão de tantas coisas para viver “empoeirados” ou “em cadeias” por causa de uma mensagem?

Sobre os Sonhos 2.47-64

E, com relação ao objetivo e zelo de vida dele, testemunha também, e não menos, o nome. Pois “José” é interpretado “adição”. E a vã glória sempre acrescenta o ilegítimo ao genuíno, o estranho ao familiar, a mentira à verdade, o excedente à autossuficiência, frouxidão à vida biológica e arrogância à vida do dia a dia.

Examina o que é que quero demonstrar. Com comidas e bebidas nos alimentamos, ainda que seja um baratíssimo pão de cevada e água de fonte. Por que, então, a vã glória agregou milhares de tipos de massas de bolos de leite e bolos de mel, além de trabalhosas e totalmente variadas misturas de incontáveis vinhos, temperadas mais para a fruição do prazer do que para o aproveitamento da nutrição?

Novamente, condimentos necessários à comida [são] cebolas, vegetais, muitas das frutas e, ainda, queijo, e se algo mais há de semelhante modo. E se queres, considerando as pessoas que comem carne, escrevemos junto a esses também peixe e carne.

Ora, então não seria suficiente se servir depois de assar em brasa e grelhar de modo improvisado ao fogo, à maneira dos heróis, que eram verdadeiramente homens? Mas o glutão não se apressa somente em direção essas. Tendo recebido a vã glória como aliada, e tendo despertado a paixão delicada que há nele mesmo, investiga e procura por cozinheiros e organizadores de mesas famosos nessa arte.

Esses que agitaram iscas descobertas há muito tempo diante do miserável ventre, que prepararam peculiaridades de sabores, e que as dispuseram ordenadamente, adulam e domesticam a língua. Em seguida, imediatamente, atraem o paladar, passagem para os sentidos, por meio do qual, sem demora, aquele que é ávido por jantares se revela escravo em vez de livre.

Quem é que não sabe que o vestuário foi preparado primeiramente para o corpo contra os danos que sobrevêm a partir do frio congelante e do forte calor? Corta-vento, por um lado, como os poetas dizem em algum lugar, no inverno... [lacuna de uma linha]

Quem, então, elabora com destreza as túnicas púrpuras? Quem, as peças de roupa leves e transparentes? Quem, vestes fiadas como que por aranhas? Quem, as decoradas com flores, com tingimentos ou bordados, por meio daqueles que são experientes para tingir por imersão ou tecer coisas coloridas, e que superam a representação que se encontra na arte da pintura? Não é a vã glória?

Mas, de fato, também casas, pelas mesmas razões, se fizeram necessárias a nós, de modo que não sejamos feridos por animais selvagens ou por seres humanos ainda mais selvagens quanto à natureza, os quais nos perseguem. Por que, então, ornamentamos os pisos e as paredes com pedras caras? E por que vamos à Ásia, à Líbia, a toda a Europa e às ilhas, procurando por colunas selecionadas segundo a origem, e por marcos.

E por que, ao adornarmos os capiteis, nos diligenciamos e rivalizamos a respeito dos entalhes dóricos, jônicos e coríntios e quantas coisas inventam aqueles que desdenham das normas estabelecidas? E por que preparamos aposentos masculinos e femininos com tetos de ouro? Não é, então, pela vã glória?

E, decerto, para o sono seria suficiente um chão macio – visto que conta-se que até os dias de hoje os gimnosofistas, entre os indianos, se deitam no chão por costumes ancestrais – e, se isso não bastar, um leito de folhas, ou então uma cama feita de pedras ajuntadas ou de madeiras baratas.

Mas, com efeito, se produzem em longo tempo e com muitos trabalhos e despesas pés de marfim nas armações e divãs com madrepérolas caras e envolvidos em capas multicores. Alguns são todo de prata, todo de ouro e cravejados de pedras preciosas, com roupas de cama bordadas com flores e tecidas com ouro, como tendo sido ornamentados para exibição e pompa, não para a necessidade de cada dia. Desses, o artesão é a vã glória.

E por que seria preciso procurar para unguentos algo além do fruto espremido da oliveira? Porque suaviza, libera a fatiga do corpo e promove uma boa condição corporal. E se porventura alguma parte vier a estar frouxa, ele a ajunta com compactação e coloca um tônus e um vigor que não é inferior ao de nenhuma outra.

Não obstante, em afronta a coisas tão úteis, são erigidos como fortalezas os prazerosos unguentos da vã glória, para os quais os perfumeiros trabalham penosamente e contribuem grandes países - Síria, Babilônia, Índia e Cítia - nos quais estão as produções das ervas aromáticas.

Para o beber, então, o que é preciso além do copo da natureza, uma obra de arte no mais alto nível? Esse copo são as nossas mãos. Alguém que as ajunta como uma só, coloca em forma de concha, e muito bem as posiciona junto à boca enquanto outro verte a bebida obtém não somente remédio para a sede, mas também um prazer indescritível.

E se for absolutamente necessária outra coisa, o copo rústico do agricultor não seria adequado? Seria necessário procurar pelas artes de outros ilustres? Por que preparar generosa quantidade de taças de prata e de outro, se não pela arrogância, que é grandemente insolente, e pela vã glória, que vai e vem em oscilação.

Quando também algumas pessoas julgam digno serem coroadas não com uma cheirosa coroa de louro, nem de canela, de violetas ou lírios, ou rosa, ou ramo de oliveira, ou, em resumo, de alguma flor, a desdenhar assim os presentes de Deus, que ele entrega pelas estações anuais, suspendem [coroas] de ouro sobre a cabeça, uma carga pesadíssima, em meio à ágora repleta de pessoas sem pudor, o que mais se deve julgar além do fato de que são escravos da vã glória, enquanto alegam não somente serem livres, mas também líderes de muitos outros?

O dia me abandonará enquanto exponho as corrupções da vida humana. E, de fato, por que é necessário me delongar? Pois quem nunca as ouviu, e quem não é um espectador dessas coisas? Ora, de fato, quem não está habituado e acostumado com elas? De modo que, de maneira totalmente correta, a Palavra Sagrada nomeou como “Adição” aquele que é tanto inimigo da modéstia, quanto companheiro da arrogância.

Pois exatamente como nas árvores crescem brotos estranhos a elas, grandes infortúnios para os genuínos, os quais os agricultores purificam e cortam por cuidado para com o que é necessário, assim também, junto a uma vida verdadeira e modesta, brota a vida mentida e cheia arrogância, da qual, até os dias de hoje, ninguém encontrou um agricultor que tenha cortado o rebento danoso pelas próprias raízes.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Dois textos para entender os manuscritos de Qumran e a comunidade do Mar Morto

A leitura desses dois textos dará uma ideia da história dos Manuscritos do Mar Morto, bem como de sua relevância e, o que é importante, das incertezas que ainda temos sobre eles. É um bom começo para quem quer se informar a partir de fontes confiáveis, por autores responsáveis.

O primeiro texto é de mais fácil leitura. Escrito pelo monge português Geraldo Coelho Dias, serve como boa introdução a respeito da descoberta dos manuscritos, dos manuscritos em si, e sobre sua relevância para nós. Apesar de ele escrever a partir de uma perspectiva ligeiramente diferente da que tenho seguido atualmente, parece-me proveitoso e oportuno. Para lê-lo, acesse este livro que está AQUI na Biblioteca Digital da Universidade do Porto, e procure as páginas 111 a 121.

O outro texto é de leitura um pouco mais difícil, mas é importante para entender a construção da hipótese de que a comunidade de Qumran seja uma comunidade de essênios e os diferentes argumentos desenvolvidos nesse sentido. O autor é Jonas Machado e seu texto foi publicado na revista Estudos de Religião. Acesse-o AQUI.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Dor de Letra (artigo sobre Fílon de Alexandria e Primo Levi)



RIOS, Cesar M. Dor de Letra: Relatos de Sofrimento em Fílon de Alexandria e Primo Levi. In: Revista de Estudos Judaicos. IHIM: Belo Horizonte, 2011.

Literatura apocalíptica: artigos de J. J. Collins e Dionísio Soares

Título: Temporalidade e política na literatura apocalíptica judaica

Autoria: John J. Collins

Publicação: Revista Oracula, 2005.

Resumo: Existem dois tipos de textos apocalípticos: os de orientação histórica que descrevem um julgamento de proporções cósmicas (Daniel, por exemplo) e as viagens celestiais que se centram no destino da alma após a morte (2 Enoch ou 3 Baruch). Este artigo se concentrará na investigação dos apocalipses histórico/cósmicos, primariamente nos textos judaicos, mas também no Livro de Apocalipse, que tem raízes judaicas profundas e óbvias.
 
Acesse o artigo completo clicando AQUI.

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Título: A literatura apocalíptica: o gênero como expressão

Autoria: Dionísio Oliveira Soares.

Publicação: Revista Horizonte, 2008.

Resumo: A literatura chamada de “apocalíptica” tem recebido uma renovada apreciação nos últimos anos. Entretanto, percebe-se certa confusão terminológica que, por fim, leva a uma classificação equivocada do gênero de certos escritos. O presente artigo tem por finalidade analisar as conceituações e as expressões literárias da apocalíptica, com o intuito de se chegar a uma definição mais clara do tema, distinguindo apocalipse enquanto gênero literário e apocalíptica enquanto mentalidade, com as formas básicas de expressão literária do gênero e seus paralelos antigos. Assim, o artigo é dividido em duas partes: primeiramente, verificam-se as definições e características atribuídas ao gênero apocalíptico pelos principais autores do tema, especialmente no que se refere aos escritos judaico-cristãos produzidos entre 250 a.C. e 100 d.C.; em seguida, verificam-se os paralelos antigos presentes na literatura de outros povos, como os sumérios, os persas e os gregos. Por fim, faz-se uma breve análise da ocorrência dessa literatura nos  Manuscritos do Mar Morto. Isso posto, chega-se à conclusão de que é possível fazer a distinção acima proposta, a qual traz maior clareza na definição e classificação dos escritos ao gênero atribuídos.


Acesse o artigo completo clicando AQUI.

e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobroruka

Textos acadêmicos em português sobre Fílon de Alexandria

 

Há pouca produção sobre Fílon de Alexandria, exegeta judeu alexandrino do século I d.C., em português. Contudo, já há alguns textos sobre a vasta obra desse ilustre contemporâneo de Jesus disponíveis na internet em nossa língua. Certamente, bem mais do que havia há uns dez anos, quando comecei a estudar o autor. Abaixo, apresento uma lista rápida com links que pode ajudar.
Fílon de Alexandria - Flaco - Tradução, Introdução e Notas (DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - 2010)
de Tatiana José Rodrigues Faia

Embaixada a Calígula. Agustina Bessa-Luís e uma Memória de Fílon de Alexandria (ARTIGO - 2010)
de Tatiana José Rodrigues Faia

Fílon de Alexandria e a Tradição Filosófica (ARTIGO - 2003)
de Dax Fonseca Moraes Paes Nascimento

Tradição e Transformação: A Torah como fundamento do mundo em Fílon de Alexandria (ARTIGO - 2004)
de Dax Fonseca Moraes Paes Nascimento

O próprio e o comum: rastros da interculturalidade na escrita de Fílon de Alexandria (TESE DE DOUTORADO - 2013)
de Cesar Motta Rios

A alegoria na tessitura de Fílon de Alexandria: estudo a partir da obra filônica com ênfase em Sobre os Sonhos I (DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - 2009)
de Cesar Motta Rios

O que vês? / O que lês?: Imagináveis aproximações entre Fílon e Zacarias (ARTIGO - 2009)
de Cesar Motta Rios

Tratado Sobre os Gigantes de Fílon de Alexandria: apresentação, tradução, notas (ARTIGO/TRADUÇÃO - 2008)
de Cesar Motta Rios

Se algum link não estiver funcionando devidamente, avise-me.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Veja os Manuscritos do Mar Morto você mesmo!


The Leon Levy Dead Sea Scrolls Digital Library oferece a oportunidade única de ver os manuscritos do Mar Morto em detalhe, com uma excepcional qualidade de imagem. O estado de muitos manuscritos pode ser meio decepcionante para quem imaginava rolos em ótimo estado. Mas a antiguidade dos textos e a exclusiva preservação de muitos deles são motivos suficientes para valorizar cada pedacinho escrito de pergaminho ou papiro.

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