Oi Alex,
Vou te dar uma resposta curta, mas não por falta de consideração. Nossa conversa pode continuar aos poucos.
Eu entendo que a questão que você levanta é problemática porque a
reação ou resposta de cada um a ela não depende só de conhecimento, mas
também nossas crenças. Por isso, antes de dizer o que acho e porque
entendo que não estamos fazendo nada de errado ao dizer "JESUS" e
"JERUSALÉM", preciso dizer que:
Não creio
que o uso das palavras tenha poder mágico ou místico, no sentido de que,
por exemplo, uma pronúncia correta do nome do Cristo possibilitaria uma
invocação melhor respondida pela divindade. Se eu cresse nisso, minha
resposta seria outra.
Pois bem, estando em um país de fala
inglesa, me chamam "Cisar". Estando em país de fala hispânica, me chamam
"Cêssar". Uma vez tentei ensinar uma alemã a pronunciar meu nome. Ela
se esforçou, mas a tônica ficou no A: CesAR! Mesmo meu nome sendo mal
pronunciado, eu não deixei de ser eu, nem deixei de responder ao
chamado. Por quê? Porque sei das peculiaridades dos idiomas dessas
outras pessoas e reconheço uma certa impossibilidade de que pronunciem
meu nome tal qual minha mãe o pronunciou desde meu nascimento.
Eu digo "JESUS". Por quê? Ora, porque sou herdeiro de um processo
LINGUÍSTICO e puramente LINGUÍSTICO que faz com que o nome semita do
Salvador seja assim pronunciado em português. No Novo Testamento grego o
nome dele já é pronunciado diferente do que sua mãe pronunciava, pois
falta ao grego o som "sibilante palato-alveoar desvozeado ", que no
hebraico é representado pelo shin - שׁ. Solução? Coloquemos um sigma - σ, com som
"sibilante-fricativo alveolar desvozeado" (som de dois s em português),
pois é até parecido.
Paulo (judeu-fariseu-da tribo de
Benjamin-circuncidado etc etc etc) não morreu de remorso por isso. Mesmo
sabendo da diferença, escreveu suas cartas em grego, utilizando para
"Jesus" o mesmo nome que os tradutores judeus mais antigos haviam usado
para (o personagem que chamamos de) "Josué" na Septuaginta (Ἰησοῦς por יְהוֹשֻׁעַ). (Se Paulo
fez isso, eu não posso fazer?)
Vamos lá: O passo seguinte foi
o latim, que tomou o som do grego e o manteve praticamente inalterado.
Mas o "J" do latim (que encontramos nas edições de textos em latim) não tinha o som "sibilante palato-alveolar vozeado "
que tem hoje em português. Era simplesmente um i em posição de
semivogal. Com o tempo, e com a diversificação do latim em línguas
populares no amplo espaço em que era falado, o som do J se diversificou
(Algo normal. Veja como a pronúncia do R se diversificou muito nos
diversos lugares em que se fala português, por exemplo.). Compare a
pronúncia do português e do espanhol para o J. Bem, coube a nós o som
que temos.
"Jesus". Ele sabe que é dele que estamos falando?
Sim. Creio que sim. Tanto quanto eu sei que sou eu quando meus colegas falantes de inglês me chamam de "Cisar".
Agora, se eu
quiser estudar um texto, tentando entender a etimologia das palavras,
não posso ler tradução, transliteração, nem discutir a partir disso.
Precisarei ir ao texto em sua língua de origem. (Por isso não faz sentido pensar em transliteração reversa.) Mas estudar etimologia é
uma coisa, falar sobre um assunto, ensinar em uma aula ou cultuar em
uma igreja são coisas diferentes. O problema é que há certas teorias da
conspiração que inventam que as mudanças linguísticas são maquinações
perversas de forças ocultas. Não creio nisso. Se temos uma explicação
simples, por que procurar outras pouco prováveis?
Bom, eis
minha opinião e o motivo de minha pronúncia e escrita. Mas respeito quem
pensa e pronuncia diferente. Eu entendo. O Senhor certamente nos
entenderá muito mais.
Abraço,
Cesar
Nenhum comentário:
Postar um comentário