quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Todo judeu do século I d.C. queria impor a Lei sobre todo mundo ou odiava todos os não-judeus?

Cesar Rios

Você conhece aquela imagem que pintam dos judeus (e costumam generalizar mesmo, falando sobre “os judeus”) dos tempos de Jesus como sendo incorrigivelmente arredios com todos os seres humanos não-judeus? Dizem que só respeitavam quem tentasse cumprir a lei à risca, que queriam impor as leis da Torah e da tradição oral sobre todos os que se aproximassem deles, essas coisas. Particularmente, já escutei esse tipo de coisa em muitos lugares. O problema básico reside no fato de que as pessoas que dizem isso constroem um argumento circular. Deduzem essa informação a partir da leitura do Novo Testamento e, em seguida, aplicam essa informação para interpretar o Novo Testamento. Não percebem que “os judeus” não estão descritos no Novo Testamento como se este fosse um tratado etnográfico. Não percebem que é preciso olhar para o contexto mais amplo e para outras fontes antes de definir algo de forma tão radical.

Uma coisa muito interessante foi escrita por Fílon, o judeu alexandrino dos tempos de Jesus. Ele entendia que uma pessoa (não judia necessariamente) seria bem-aventurada se cresse/entendesse 5 coisas básicas simplesmente. Veja só:

A pessoa que aprendeu estas coisas mais pela reflexão que por tê-las escutado, e que selou em sua alma estas noções maravilhosas e muito disputadas – que há e está aí um Deus, que o Ser verdadeiro é um, que ele criou o cosmo, e o fez um somente, como foi dito, tendo o assemelhado a si mesmo no que concerne à unicidade, e que ele age providencialmente para com o que foi criado – viverá uma vida bem-aventurada e feliz, tendo recebido em si a inscrição de dogmas de devoção e santidade.
Fílon, o judeu

Nem todos os empreendimentos revisionistas são produtivos e desenvolvidos de modo sóbrio. Mas algumas coisas precisam mesmo ser reconsideradas à luz de informações mais amplas.