Cesar Rios
Você conhece aquela imagem que
pintam dos judeus (e costumam generalizar mesmo, falando sobre “os judeus”) dos
tempos de Jesus como sendo incorrigivelmente arredios com todos os seres
humanos não-judeus? Dizem que só respeitavam quem tentasse cumprir a lei à
risca, que queriam impor as leis da Torah e da tradição oral sobre todos os que
se aproximassem deles, essas coisas. Particularmente, já escutei esse tipo de
coisa em muitos lugares. O problema básico reside no fato de que as pessoas que
dizem isso constroem um argumento circular. Deduzem essa informação a partir da
leitura do Novo Testamento e, em seguida, aplicam essa informação para
interpretar o Novo Testamento. Não percebem que “os judeus” não estão descritos
no Novo Testamento como se este fosse um tratado etnográfico. Não percebem que
é preciso olhar para o contexto mais amplo e para outras fontes antes de definir
algo de forma tão radical.
Uma coisa muito interessante foi
escrita por Fílon, o judeu alexandrino dos tempos de Jesus. Ele entendia que
uma pessoa (não judia necessariamente) seria bem-aventurada se
cresse/entendesse 5 coisas básicas simplesmente. Veja só:
“A pessoa que aprendeu estas
coisas mais pela reflexão que por tê-las escutado, e que selou em sua alma
estas noções maravilhosas e muito disputadas – que há e está aí um Deus, que o
Ser verdadeiro é um, que ele criou o cosmo, e o fez um somente, como foi dito,
tendo o assemelhado a si mesmo no que concerne à unicidade, e que ele age
providencialmente para com o que foi criado – viverá uma vida bem-aventurada e
feliz, tendo recebido em si a inscrição de dogmas de devoção e santidade.”
Fílon, o judeu
Nem todos os empreendimentos
revisionistas são produtivos e desenvolvidos de modo sóbrio. Mas algumas coisas
precisam mesmo ser reconsideradas à luz de informações mais amplas.